A frustração, sempre foi dos sentimentos, àquele que mais tive medo. Cresci vendo-o estampado na cara dos meus pais. E eu achava triste viver toda uma vida assim, de não terem tido a oportunidade, ao menos, de tentarem os sonhos.
Meu pai queria ser médico. Segundo ele tudo conspirou para que isso não se torna-se realidade. No fim das contas, ele tinha que trabalhar pra poder comer. Então, ele decidiu abraçar não a profissão que ele escolheu, mas a profissão que o escolheu, foi ser "farmaceutico". Tirou o diploma de enfermagem técnica. Abriu a própria famácia, foi por muitos anos o dotô Ebel, pra o povo do Tabuleiro. Bairro onde nasci. O sonho de exercer medicina foi trocado pelo sonho de ver um filho médico. Mais uma frustração pra o meu pai. Meu irmão também tirou o diploma técnico em enfermagem, mora em São Paulo e trabalha em drogarias; minha irmã tem o técnico de nutrição e agora sonha em conseguir um emprego e com o bebê que está pra nascer, depois quer entrar na faculdade pra valer; o mais novo, esse acabou o segundo grau aos trancos e barrancos e eu, a única que entrou na faculdade, fui cursar Comunicação. Me diplomei em jornalismo.
Me pergunto se somos de uma forma outra parte de pequenas frustrações pra ele.
Minha mãe, queria ser freira, corista da igreja e pianista. Meu avô só não vetou o casamento dela aos 18 anos com meu pai. Enfim, casada e livre. Porém, sempre com aquele ar sonhador e triste por nunca ter tido o direito de tentar. Ainda vive na certeza que deveria ter sido mais forte que a minha avó paterna, ter continuado a estudar pra ser professora. - Pelo menos teria uma profissão- diz ela.
Eu sim, vivo na esperança de não ser herdeira da frustração deles. Sobretudo, porque sempre achei triste ver meu pai falar como era dificil levantar todos os dias, mal tomar café-da-manhã e ir trabalhar até sabe que horas. Da cara da minha mãe aos domingos, querendo sair de casa, ver outras coisas, se divertir um pouco e meu pai só querendo descançar. E ele continou firme, sete dias por semana, em jornadas de mais de 16 horas por dia. Doente ou não. Por mais de trintas anos, até que perdeu tudo dentro de 5 anos. Hoje, minha mãe 52 e meu pais 65, tornaram-se protestantes e refugiam-se nos braços da igreja deles.
Meu pai continua trabalhando em farmácia, alheia bem sei. Mas, parece que ele aprendeu a ter paz e sente saudades da época que ele era o Dotô daquele povo todo. Minha mãe, corre para um lado e para o outro, não sossega. Sempre inventando algo, aprendendo algo pra manter um nível de vida descente em casa. Só que ela agora tem mais paz.
Eu...tento com todas as minhas forças me tornar uma pessoa melhor, ser mais como os meus pais, trabalhadores. Porém, sem me sentir frustrada.
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