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quinta-feira, junho 10, 2010

Sem um Adeus

Jaque me liga 9:30 da noite na terça pra me avisar que Amir tinha sido internado. O choque veio com a noticia que ele não sobreviveria nem a noite. A revolta subiu quando os colegas descobriram que a empresa já sabia disso desde o internamento uma semana atrás e decidiu não avisar para não pertubar o trabalho e a produção, que poderia até parar. O funcionários já andam num descontentamento sem fim com a empresa e com o manager. Agora com essa situação piorou. Deixa eu ir contanto a história de trás pra frente, fica melhor de entender. Dia 27 passado, o Amir desceu se sentindo mal, pediu para que a pressão dele fosse medida, pq ele acreditava que estava muito alta, o manager entrou enfurecido no quarto de primeiros-socorros e impediu que o medimento fosse feito e literalmente mandou parar com a frescura e voltasse ao trabalho. Que ele estava de saco cheio dele se fazer de doente (usou a palavra aanstelerij). O Amir tentou argumentar, mas ele não ouviu. No outro dia ele não foi trabalhar e eu não sei quando, mas ele foi logo internado. Nos exames descobriram que ele estava com cinco tumores, os orgãos entrando em falência e os médicos disseram que já não podiam fazer mais nada. Esse meu colega decobriu que tinha diabetes uns anos atrás. Ele passou mal, foi parar no hospital e quando fizeram o exame ele já esta num nível perigosissímo e o pior ele tinha o tipo mais complicado de diabetes. No inicio da doença eu pegava carona com ele pra o trabalho, muitas vezes ele ficava tremendo atrás do volante quando dava hipoglicemia, o chato foi que ele mudou. Ele sempre falava com muita calma e depois da dignose ficou até um pouco violento. Eu não sei se foi revolta ou mesmo a medicação, sei que ele chegou um dia a dizer que os medicamentos tinham mudado o temperamento dele, que ele nem conseguia se controlar.
Enfim, desde então ele tem ficado muito doente sempre. Nesse último ano ele vinha se queixando de dores no corpo e os médicos não achavam nada. O ARBO o mandava de volta ao trabalho, o manager falou várias vezes na cara dele que ele estava sendo falso. Eu digo uma coisa a vcs se de um lado vc sabe que o mais importante é a sua saúde, de outro tem o seu orgulho, de um outro o medo inconciente de se entregar e piorar a situação. Você quer ser forte e seguir trabalhando. Por essa razão, sem o apoio da empresa, engolindo sapos as pessoas vão adiante na Adidas. Acima de tudo, quem vai querer empregar alguém doente? Sim, tem o medo do desemprego.
Na empresa, quando cheguei ontem pela manhã já havia uma grande comoção. Outra colega tinha uma consulta no hospital onde ele estava na minha cidade e iria passar lá pra ver qual era a situação e avisar pra nós. Quando ela chegou no quarto a enfermeira avisou que ele nem conseguiu sobreviver a madrugada, tinha morrido no fim da noite. Ela foi pra o trabalho, chegou chorando e avisou a todos. Pelo radioporto (tipo walk-talk) ela chamou a atenção dos colegas e contou. O teamleader ficou furioso queria chamar o manager, as pessoas  foram ficando iradas e ia aparecendo mais gente no mezzanino pra saber mais, quando o manager apareceu várias pessoas gritaram com ele. O FNV foi avisado do acontecido e a cabeça do manager está sendo pedida. Eu não sei o que vai acontecer amanhã, ou se já aconteceu hj. Estou a espera.
O que sei sobre o Amir, ele era iraniano. Tinha apenas 48 anos de idade, era exilado politico. Precisou fugir do Iran por conta de uma foto que ele tirou de alguém que não devia, ele era reporter fotográfico. Se fosse pego seria executado. Veio parar na Holanda sozinho, deixou a esposa e os filhos para trás. Depois de uns meses ele pediu que ela viesse e ela se recusou e deu o divorcio. Aqui ele refez a vida, casou com uma Holandesa. Nunca tiveram filhos. Ele já era avô...pois ele foi pai muito cedo. Era um ótimo baterista. Iraniano sim, mulçumano não. Ele falava até muto desrespeitoso sobre os mulçumanos, chamava na maior os caras de geitneukers (fudidores de cabra)Da minha relação com ele.  Bem, érámos colegas, começamos mais ou menos ao mesmo tempo na Reebok. Como já disse, no inicio ele era super diferente. Era super aberto pra conversar e era bom falar com ele. Só tinha aquelas brincadeiras super chatas, sobre sexo e homofóbicas que eu detestava. Nunca fomos amigos, porém nunca tivemos desavensas nenhumas. Quatro anos atrás ele quase fica maluco pq o pai estava muito doente e ele não podia entrar no país, um ano depois o pai dele morreu e ele sequer pôde vê-lo. Ele tinha planejado ir pra um país vizinho e pagaria pra alguém levar o pai dele até ele, aparentemente ele estava muito fraco pra viajar e não deu certo.

Vai em paz Amir, espero somente que seus últimos momentos não tenham sido de tanto sofrimento

MAIS uma vez eu estou abismada que os médicos não sabiam que ele estava com câncer, revoltada com a empresa e muito triste pela morte dele.

Pra completar estou "fazendo nas calças" pq tenho que arrancar um ciso daqui a pouco, e eu morro de medo de dentista. Sério...tenho medo...muito medo! Tô num nervosismo horroroso sem dormir direito com tudo isso.

1 soltaram a lingua:

Eliana disse...

Oi, não conhecia seu blog...vim seguindo um link aqui e outro ali e ohhh eu aqui! Ahhh e lendo um post anterior vi fotinho sua no blog da Aline! Ahhh coitado deste seu colega e fico boba com a atitude do tal manager. Mas o caso dele não é único, infelizmente, soube de outros casos parecidos aqui na Holanda e também no Brasil, pessoas conhecidas minhas. A gente não consegue imaginar que existem médicos tão apáticos e sem interesse pelos seus pacientes. Lastimável.